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quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Ciúme


Mauro negava sentir ciúme.
Discursava pela vida afora, tal qual filósofo, abominando esse sentimento que, segundo ele, fazia horrores na vida das pessoas que o tinham. Muito mais do que na vida das pessoas por ele atingidas.
Gostava de falar sobre ciúme, catedrático que parecia ser no assunto.
Suas palavras eram de total negação.
Orgulhava-se de, desde menino, dividir seus inúmeros brinquedos de filho único com os amiguinhos da vila onde morava, com todo desprendimento de quem não guardava, em si, nem as mínimas impressões desse sentimento.
Caminhou pela vida dividindo amigos, chefes, empregos, objetos pessoais e até mesmo bens materiais de valor. Tudo lhe servia de teoria para esse gosto de se mostrar isento de ciúme.
Parecia que sua vida foi de total treinamento para que angariasse troféus e mais troféus merecidos.
No entanto, surgiu Marina. Marina, a escolhida. Sem muitos atrativos, Marina tinha uma beleza camuflada que só Mauro percebia a fundo.
Parecia que Mauro escolhera Marina para que fosse poupado dos olhos desejosos de outros homens sobre ela. Mauro passou a temer suas saídas, rápidas que fossem, controladas nos segundos até a sua volta. Tudo de Marina era importante para Mauro. Captava seus sonhos, seus desejos, suas vontades. Vivia totalmente para ela.
Agora, cumprindo já dez anos de pena, olhava o teto da cela e não entendia como disparara aquele tiro em seu coração, à queima-roupa.
(Adir Vieira - 30/11/10)
Fonte da imagem:mestrearievlis...

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