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Bem Vindo


sábado, 30 de maio de 2009

Um novo dia me espera


Pulo da cama.

Ainda não acordei, mas meu motor invisível me mobiliza à correria habitual.

Já no banheiro, a escova de dentes me sorri, levando meu olhar à torneira aberta, sei lá por que mãos, se as minhas se apossavam do creme dental…

Sem me perceber a caminho da cozinha, vejo-me ligando a cafeteira e preparando um pequeno sanduíche de alface e queijo.

Não quero crer, mas meu pijama despido, ou melhor, trocado pela saia que não escolhi, repousa no travesseiro à espera da próxima noite.

Ao mesmo tempo, as chaves e a bolsa, minha companheira, saltavam até mim, na minha passada pela sala.

O som de uma buzina lá fora me acorda para a vida me dando a consciência de que um novo dia me espera.

Fonte da imagem: megatomaz.blogtok.com

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Colcha de retalhos


Todas as vezes que me encontro “vazia de mim”, recorro a um trabalho manual para, através dele, ocupar a mente e as mãos.

Estatisticamente, evidenciei quantas foram as vezes que assim me achei ao longo da vida adulta, pelo número elevado de sacolas com pequenos pedaços de tecido cortados assimetricamente e outros em crochê, em forma de quadrados ou círculos, alguns estampados e vibrantes nas cores, empilhados segundo sua forma e a espera, sempre a espera…

À espera de que pudessem ser unidos para dar forma talvez a colchas de retalhos apreciadas por mim, trabalhos fenomenais em costura feitos por uma vizinha da infância…

Estatisticamente também constatei que esses “vazios de mim”, rapidamente se preenchem à sua própria custa (ou não?), impedindo a seqüência do trabalho final e fazendo com que os antigos e novos retalhos retornem às suas sacolas de origem, até que um novo “vazio de mim” se instale.

Fonte da imagem: acasoousorte.blogspot.com

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Chuva


Chove forte e constante lá fora, mas, aqui dentro, é sol em minha alma.

A alegria se instalou tão acelerada que não percebi o chão molhado, as árvores chorando e os pássaros recolhidos.

Tudo aqui dentro, fora e dentro de mim, é como o calor abrasador, motivado pela minha alegria de então…

Não penso no mendigo sem proteção, pois a chuva, embora fina, lhe tirou o abrigo…

Não penso naquela criança que volta da escola a pé e que, surpreendida com a chuva de repente, não tem a capa na sacola…

Não penso nos moradores daquela casa humilde que pode desmoronar a qualquer momento se a chuva fina persistir…

Não penso no ancião que acabou de deixar o hospital depois de tanto tempo e sequer pode se alegrar com a volta à vida aqui fora…

Não penso naquelas pessoas que residem em áreas carentes, enlameadas e perigosamente escorregadias devido à chuva fina…

Não penso em nada, é sol em minha alma e me descubro egoisticamente feliz na minha alegria.

Fonte da imagem: www.htforum.com

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Caminho


Mais uma vez percorro o mesmo caminho.

Pelas repetidas vezes por que ali passei, posso descrever mentalmente as ruas, as casas, o comércio, os arbustos e os animais que ali fazem sua morada.

Sei que sou capaz de notar um letreiro sem uma das letras, uma pequenina árvore na calçada modificada pelo maltrato das crianças e dos mendigos, a nova cor da parede de uma das casas. Sei mesmo que posso identificar todas as peças do trajeto na cadência dos meus passos, facilitada que sou por ali me achar todos os dias, no mesmo horário.

Tão acostumada estou com essa paisagem que a faço familiar e única em minha história.

Dela, já não posso prescindir. Ofereça-me a vida outros caminhos, sejam quais forem as alternativas de mudança, já não quero excluir do meu quebra-cabeças a peça que compõe o meu quadro principal.

Fonte da imagem: www.baixaki.com.br

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Ausência


Era sempre assim que acontecia.

A urgência de realizar nossos sonhos adolescentes sempre nos levava, antes, a tentar sentir, através da mãe, sua aceitabilidade.

Às vezes sonhávamos juntas, eu e minhas irmãs, quando nosso sonho atingia apenas a ida à casa de um parente próximo.

Às vezes sonhávamos separadas, imaginando uma praia deserta, bem distante, onde a sonhadora e seu príncipe encantado viveriam, longe de tudo, seus momentos especiais.

Não importava qual sonho era, se banal ou inatingível.Sabíamos, antes de tudo, que aquele olhar perscrutador estaria ali, presente, no momento de pedirmos autorização para vivê-lo e em alguns segundos desistiríamos do sonho, tamanha seria a insalubridade de sua beleza quando esmiuçado por aqueles olhos nos fazendo do mesmo abrir mão.

Era sempre assim. E o pior é que tínhamos a certeza, e a temos até hoje, de que precisávamos ser “protegidas”… Existiriam sempre bandidos de alma a nos aguardar, existiriam sempre percalços desnecessários de viver, existiriam sempre lágrimas a derramar se não aceitássemos, de pronto, sua justificativa para não o permitir.

Hoje podemos sonhar e viver qualquer sonho, mas como ir em frente, se faltam aqueles olhos para nos abençoar?

Fonte da imagem: sol.sapo.pt

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Nosso aniversário


Estava prestes a completar mais um ano com ele em minha vida. Era mais um aniversário dessa união feliz.
Sabia que, como nos outros anos, ele não iria lembrar da data. Atribuía sempre ao seu esquecimento o fato de que outras eram as datas marcantes – a que me conheceu, a do nosso reencontro… – mas nunca a do nosso primeiro dia na mesma casa, como marido e mulher.
Houve tempos em que muito me decepcionou e não tendo papas na língua, cuspia minha insatisfação em reclamações, quase obrigando-o a pedidos de desculpas e pagamentos de prendas para que eu voltasse ao normal.
Houve tempos em que abominei minha família, alguns amigos, por nesse dia não me parabenizarem.
Houve outros tempos em que pensei em formalizar nossa união só para, como todo o mundo, dar o que a sociedade exigente pedia.
Hoje, já decorridos tantos anos, vejo que se essa formalização não se dá nos corações, não adiantarão datas, locais, fotos, pois tudo morrerá ao longo do tempo.Tempos como o de hoje em que, segura e fortalecida, percebo que passou o dia e eu também esqueci.

Fonte da imagem: voandopelavida.blogspot.com