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quinta-feira, 17 de setembro de 2009

O vestido de 52 botõeszinhos


Minha mãe sempre foi uma excelente costureira. Gabava-se de ter tido uma professora de corte e costura por demais exigente que a fazia, sem dó e piedade, refazer todo um extenso trabalho de bainha, caso um dos minúsculos pontos estivesse fora do padrão.
Era meticulosa em tudo, não sei se posso atribuir essa característica de personalidade, à formação dessa professora.
Tentava nos seus ensinamentos a nós, suas filhas, repetir esse comportamento, mas nós, vivendo em outra época mais flexível, a driblávamos e íamos dando nosso verdadeiro toque pessoal nas tarefas que empreendíamos.
Mãe de cinco meninas, em tempos de poder escasso, encarregava-se de nos vestir com esmero, com seus dotes profissionais.
Lembro que nunca costurou para estranhos, mas a família de primas e tias, usavam e abusavam dos seus serviços de modista, iniciado para compor as despesas da casa, num momento de desemprego do meu pai.
Vejo agora, diante dos meus olhos, pilhas de papel pardo e alfinetes, com que cuidadosamente embrulhava as peças encomendadas, depois de passá-las e engomá-las a ferro. Lembro das pessoas batendo à porta para buscar as roupas e até do recebimento do dinheiro tão esperado.
Nossas roupas eram feitas muitas das vezes, com fronhas coloridas, desmanchadas e transformadas em tecido maravilhoso para ela criar seus modelos. Tinha prazer nisso e vejo hoje que se realizava compondo modelos de revista para as filhas de diferentes idades.
Passeando com minha imaginação, lembro que eu e minha irmã mais nova que eu apenas nove meses, quando começamos a trabalhar fora, tínhamos o frenesi de a cada segunda-feira, exibir um traje novo. Já nessa época, comprávamos os tecidos com seu assessoramento e cuidávamos da casa, para que a coitada todos os finais de semana preparasse um novo vestido.
Isso era bastante comum e só me dei conta de como éramos "perversas" nesse pedido a ela, quando ela mesma inventou para mim, um vestido de cor verde alface, estilo reto, sem mangas, com uma golinha "de padre" que, na frente, abaixo do decote, tinha em par, cinquenta e dois botões miúdos.
Lembro dela, arfando às nove horas da noite de domingo, ainda pregando aqueles inúmeros botões e de mim, passando a ferro a vestimenta para me exibir na segunda-feira.
Era assim minha mãe, quanta vida, quanta experiência, quanta criatividade, e sobretudo, quanto esmero em tudo o que fazia!
Como já era de se esperar, até na rua, naquele dia, me pararam para apreciar o traje, talvez estranhando aquele arsenal de botões encapados com o próprio tecido do vestido.
Belas e doces lembranças...
Fonte da imagem: wwwb.click21.mypage.com.br

2 comentários:

  1. Diza,
    Acabo de voltar no tempo e viver outra vez aqueles finais de semana com você e Cuca atentando a Mamãe para que ela costurasse uma roupa nova para cada uma. Isso acontecia toda semana. E sobre as costuras para pessoas que encomendavam aqueles modelos cheios de detalhes, me lembro dela contando com orgulho das preguinhas que fazia, das saias rodadas, dos vestidos de criança com enfeites, dos uniformes que produzia por encomenda para armarinhos do nosso bairro. Era uma vida difícil, mas repleta de novidades. Aliás, com uma mãe engenhosa, caprichosa, inteligente, criativa, trabalhadeira e realizadora como a que tivemos a sorte de ter, não poderia ser diferente. Ah! Tempo bom que não volta mais. Beijo.

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  2. Ana maria Guimaraes Ferreira17 de setembro de 2009 às 23:31

    voce me fez lembrar de tempos onde a mãe costurava roupas, curava dores e criavam os filhos.
    Todas as mães eram um pouco costureiras, um pouco curandeiras e muito amorosas.
    Hoje as roupas são compradas prontas, as máquinas se aposentaram nas casas e deram lugar a outras máquinas onde as mães se comunicam com os filhos as vezes tão distantes.
    voce me fez sonhar de novo

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