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segunda-feira, 17 de maio de 2010

A barata voadora


O grupo de quatro mulheres e dois rapazes estava ali reunido para uma dinâmica que selecionaria duas pessoas para as vagas na área de vendas.Duas das mulheres deviam ser da mesma idade, ter por volta de cinquenta anos e, aparentemente, mostravam-se dispostas e atuantes pela maneira de vestir e de falar. As outras duas divergiam no trajar e na postura, uma calada e sisuda e a outra apática ao ambiente.Os rapazes deviam ter cerca de trinta anos e um deles, magro, alto, de barba bem feita, andava de um lado para o outro do salão, sob o olhar inquiridor do colega.Todos aguardavam a chegada do orientador.O local, claro e amplo, tinha uma grande mesa central, propositadamente ali colocada para a sessão e várias cadeiras de braços e assentos estofados, na cor amarelo ouro, a circundavam numa relativa distância.Dois janelões totalmente abertos possibilitavam uma temperatura agradável, apesar do clima quente. Por várias vezes a porta de entrada da sala foi aberta pela mesma auxiliar de recursos humanos que, com o intuito de observar os candidatos às vagas, entrava, cumprimentava mecanicamente com a cabeça e dispunha, na mesa de canto, jarras de água e copos descartáveis e lápis, papéis e borrachas.Passaram-se longos vinte minutos e já ia quase anoitecendo quando o orientador adentrou a sala e após as instruções de praxe, iniciou os trabalhos.Em meio às colocações da segunda candidata à questão apresentada, foi que ela, a barata voadora, surgiu. Veio voando, tímida, como a pedir licença e fez seu pouso ali, junto à moça mais nova que, a princípio, foi a única a percebê-la. Mexeu-se na cadeira, fazendo menção de mostrá-la ao rapaz ao lado, próximo que dela estava, mas ele não entendeu sua expressão nem se preocupou em traduzi-la, posto que estava ocupado demais em ouvir a explanação da candidata que se apresentava.A barata, grande que era, cascuda e com asas bordadas de cinza, rastejava de um lado ao outro da sala e a moça mais jovem a acompanhava com os olhos, sem pestanejar, sem se dar conta de que seria a próxima candidata a se apresentar.Nisso, o outro rapaz, o magrinho, a viu, e avesso que era a maus tratos com animais, pediu socorro à senhora mais velha que dava sinais de enjôo ao simples mover da bicha.Até então, os três do grupo que a viram mostraram repulsa, nojo e medo. Era um mover de músculos faciais dos três, num mutismo total para não desviar a atenção das apresentações. Eis que, de repente, a danada colocou-se estrategicamente embaixo da mesa do orientador, vez por outra ensaiando vôos rasos, e ele nem sequer a notou.Nessa altura, enquanto o rapaz magrinho fazia suas explanações, de olho nela, a outra senhora a percebeu. Ato contínuo, começou a despejar suores e palidez exacerbada, chamando a atenção do orientador que atribuiu o fato a um nervosismo natural das pessoas quando em situação de testes. As pernas da senhora batiam-se num compasso nervoso, fazendo com que o tecido de sua saia farfalhasse a cada movimento.Já agora, quatro já a tinham visto e a bicha, altaneira, parecia gozar da importância de ter tantos olhares sob sua mira.O orientador, ocupado nas anotações que fazia sobre os candidatos, subitamente girou a cadeira, pressionando a barata voadora sob seus pés, enquanto os expectadores, em uníssono, lançaram no ar um grito que se espalhou por todo o pátio, lá fora.

Fonte da imagem:br.geocities.com

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