Estou a pé, a caminho da casa de uma amiga. Não costumo vir por essas bandas e começo a ouvir, cada vez mais perto, um burburinho de vozes gritando, ao mesmo tempo, coisas diversas. “Olha o tomate, vermelho como boca de moça bonita!” “Senhorita, a maçã está quase de graça...”Conforme me aproximo, vou identificando a feira livre. Sorrio mentalmente enquanto me dou ao luxo de seguir os outros visitantes. Já na entrada identifico as barracas milimetricamente enfileiradas, dando um visual especial com suas lonas multicoloridas. Todos ali clamam à vida. Os que vendem, buscando recuperar, com lucros, o dinheiro empregado na madrugada, na Central de Abastecimentos; e os que compram, adquirir os produtos realmente cuidados e selecionados, concorrentes que são, nas várias barracas que os exibem.Todos ali parecem ter uma alegria evidente e natural quando anunciam seus produtos, angariando a simpatia e a fidelidade de seus clientes habituais. Percebo que as pessoas, de um modo geral, são moradoras do local e já se tornaram quase amigas dos vendedores, tamanha a fluência do discurso entre eles.Estrategicamente dispostas de forma a obterem altos índices de venda, as barracas se agrupam por tipo de produto, dando vez, logo na entrada, às frutas e legumes. Em seguida, as barracas de verduras, várias, até aquelas menos comuns, são organizadas nas bancadas de forma a atrair a atenção dos clientes e dão um ar forte de natureza naquele local de tanto tumulto. Entre carrinhos pequenos de transporte, bolsas de lona grossa colorida, gritinhos de crianças puxadas pela mão por mães e babás vou seguindo, observando tudo.No meio da feira dispõem-se as barracas de roupas leves e artesanatos; mais adiante, para fazer parar toda a gente, uma barraca, com bancos e mesinhas em toda a volta, vende pastéis e salgados com caldo de cana. Penso em experimentar, mas confesso que os cuidados com a higiene não fortificam minha vontade.Vou seguindo e já lá no fundo da feira, duas barracas me chamam a atenção. A de aves é um carrinho com balcão frigorífico e lona em cima e a de peixes tem um enorme latão ao lado com água que serve para lavar os peixes escolhidos, antes do preparo de tirar a cabeça e cortar em postas. Confesso que o odor que vem dali não se coaduna com o início da feira, tão limpo e colorido. Retorno ao início com o intuito de seguir meu destino, quando estaco diante da barraca de abóboras. Estranho não tê-la notado quando por ali passei e percebo que a aglomeração que se forma na frente não deixa mesmo o cliente que nunca ali foi, sequer ter acesso à barraca.São muitas e muitas abóboras gigantes, cuidadosamente arrumadas, dando um visual artístico à barraca.Tomo conhecimento de que o vendedor está no local há décadas, seu produto é confiável e a própria arrumação clama, aos que ali passam, pela compra do produto. São abóboras de todos os tipos, dispostas algumas ainda inteiras e, quando abertas, exibindo a polpa absurdamente vermelha como a lona da barraca. Como anuncia o vendedor sem cessar, servem para doces, sopas ou ensopados, enquanto suas mãos ágeis e espertas manuseiam o facão afiado, descascando e cortando o produto escolhido. Paro e observo que, pela aglomeração que ali se forma, não é necessário técnicas ou estudos para se fazer dinheiro. Como os demais, aguardo minha vez, escolho dois quilos de abóbora baiana de polpa úmida e tomo o meu caminho original, já tendo em mente o doce que vou preparar quando retornar a casa..
Fonte da imagem:desciclo.pedia.ws
quem é carioca conhece bem a feira livre e a poesia que ela traz. as cores vibrantes de seus legumes as verduras sempre verdinhas e molhadas e o grito inconfundível do barraqueiro chamando os clientes. E só no RIO tem ainda as piadas que fazem rima que tiram do rosto sisudo um sorriso que da ate vontade de comprar.
ResponderExcluirOtimo Adorei matei minhas saudades