São sete horas da noite. O dia todo choveu e as folhas caídas das árvores, me falavam entre um balançar e outro, da melancolia.
Tudo ao redor se reverenciava à tristeza daquela mulher. Parecia que todos, deveriam sentir como ela, que os dias seriam cinzentos para sempre.
Acabo de chegar na Igreja onde será rezada a missa de sétimo dia do seu marido.
Eu e outras tantas amigas prostradas na escadaria da Igreja, meia hora antes da cerimônia, a esperávamos ansiosas, buscando tentar saber o que dizer ou fazer no momento do encontro. Todas nós nos entreolhávamos, como a pedir socorro umas às outras.
A viúva, coitada, nesse momento, precisaria de braços mais que acolhedores... Compreensivos e silentes, como sua grande dor...
Todas nós conhecíamos sua vida até ali, vivia em constante lua de mel. Por mais de quatro décadas, nunca, em tempo algum, a tínhamos visto separada fisicamente do marido. No mercado, onde duas vezes por semana, religiosamente, os dois iam às compras, caixas e atendentes os tinham como exemplo de companheirismo e harmonia. Nos almoços de negócios do marido, quando adentravam o salão do restaurante, de braços dados, demonstravam naturalmente o amor que os unia e chamavam a atenção dos presentes pela sua felicidade contagiante. Em convívio com os netos, nos finais de semana, mais pareciam pais e educadores, do que, propriamente avós, apesar de sua idade avançada, pois seus atos eram totalmente contrários às rebeldias dos idosos, à falta de calma que tempera os ânimos do mais vividos. Faziam questão de ter e, com facilidade mantinham, o frescor da juventude, dos tempos áureos.
Não fosse por tudo isso, a surpresa quando foi anunciada a morte, pegou-nos a todas nós desprevenidas. Durante todos aqueles anos de convívio direto, fora gripes e achaques naturais da idade, não conhecíamos, nem participamos de doenças em um ou em outro.
Ali, na escadaria da Igreja, esperávamos encontrá-la miserável, em frangalhos mesmo, pelo acontecido.
Eis que uma porta de carro se abre e ela, auxiliada pelo motorista, surge com o mesmo sorriso de sempre a nos cumprimentar.
Ela sim, surpreendida com o nosso semblante sofrido, parece querer nos consolar, quando, sem deixar espaço para as nossas lamúrias, resume com firmeza tudo o que cercou o falecimento e finaliza confiante e cheia de esperança, dizendo que, apesar de tudo, a vida continua...
Fonte de imagem:acarosnoarmario.blogs.sapo.pt
Tudo ao redor se reverenciava à tristeza daquela mulher. Parecia que todos, deveriam sentir como ela, que os dias seriam cinzentos para sempre.
Acabo de chegar na Igreja onde será rezada a missa de sétimo dia do seu marido.
Eu e outras tantas amigas prostradas na escadaria da Igreja, meia hora antes da cerimônia, a esperávamos ansiosas, buscando tentar saber o que dizer ou fazer no momento do encontro. Todas nós nos entreolhávamos, como a pedir socorro umas às outras.
A viúva, coitada, nesse momento, precisaria de braços mais que acolhedores... Compreensivos e silentes, como sua grande dor...
Todas nós conhecíamos sua vida até ali, vivia em constante lua de mel. Por mais de quatro décadas, nunca, em tempo algum, a tínhamos visto separada fisicamente do marido. No mercado, onde duas vezes por semana, religiosamente, os dois iam às compras, caixas e atendentes os tinham como exemplo de companheirismo e harmonia. Nos almoços de negócios do marido, quando adentravam o salão do restaurante, de braços dados, demonstravam naturalmente o amor que os unia e chamavam a atenção dos presentes pela sua felicidade contagiante. Em convívio com os netos, nos finais de semana, mais pareciam pais e educadores, do que, propriamente avós, apesar de sua idade avançada, pois seus atos eram totalmente contrários às rebeldias dos idosos, à falta de calma que tempera os ânimos do mais vividos. Faziam questão de ter e, com facilidade mantinham, o frescor da juventude, dos tempos áureos.
Não fosse por tudo isso, a surpresa quando foi anunciada a morte, pegou-nos a todas nós desprevenidas. Durante todos aqueles anos de convívio direto, fora gripes e achaques naturais da idade, não conhecíamos, nem participamos de doenças em um ou em outro.
Ali, na escadaria da Igreja, esperávamos encontrá-la miserável, em frangalhos mesmo, pelo acontecido.
Eis que uma porta de carro se abre e ela, auxiliada pelo motorista, surge com o mesmo sorriso de sempre a nos cumprimentar.
Ela sim, surpreendida com o nosso semblante sofrido, parece querer nos consolar, quando, sem deixar espaço para as nossas lamúrias, resume com firmeza tudo o que cercou o falecimento e finaliza confiante e cheia de esperança, dizendo que, apesar de tudo, a vida continua...
Fonte de imagem:acarosnoarmario.blogs.sapo.pt
Nenhum comentário:
Postar um comentário