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segunda-feira, 6 de julho de 2009

Hoje, senti vergonha de mim...


Hoje, o cenário de minha estória é a sala de recepção de um laboratório de análises clínicas.
São seis e meia da manhã e eu, meio sonolenta e jogada na cadeira de madeira não muito confortável, à espera do atendimento que só iniciaria às sete horas, sou, praticamente “acordada” por uma vozinha macia e quase inaudível, indagando se era lá que faziam exame de sangue.
Olho na direção daquele som e percebendo que a pergunta era a mim dirigida, respondo afirmativamente, ao tempo em que não posso evitar de reparar naquela senhora de baixa estatura, com a aparência de uns setenta anos, pobremente trajada, embora com cabelos e unhas dos pés e mãos, denotando trato.
Agarrava ela uma bolsa de modelo antigo – um pouco grande demais para seu tamanho – firmemente de encontro ao peito, como a impedir que qualquer gatuno de plantão, a arrancasse de suas mãos.
O que me impressionou naquela senhora foi o seu sorriso aberto e franco. Imediatamente aboletou-se ao meu lado e enveredou um monólogo de quinze minutos, onde me fez saber e ao grupo que aguardava o início dos trabalhos, toda a sua vida. Ali, naqueles poucos minutos, soubemos onde morava, que completaria no próximo mês oitenta e um anos, que ganhava um salário mínimo de aposentadoria e que tinha uma renda complementar, pois fazia doces para vender.
Seu relato, em nada condizia com sua presença ali – um laboratório particular, que atendia planos de saúde de custo médio. Sua aparência também destoava dos outros presentes, que se entreolhavam admirados de sua vitalidade, principalmente quando frisou que para ali estar àquela hora, utilizou três ônibus.
De repente, me vi diante daquela senhora, completamente viva e senti vontade de arrastá-la para um canto qualquer e dela absorver todo o frescor que os seus oitenta e um anos nos passava.
De repente me vi, bem mais nova e ali tentando descansar da noite interrompida... Eu que ali cheguei sem qualquer esforço, entrando num carro na garagem do prédio...Eu que em melhores condições financeiras, não precisava trabalhar para complementar a renda... Eu, que tinha tantos, preocupados comigo...
De repente, senti vergonha de mim...
Fonte da imagem: www.ricardoazevedo.com.br


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