Relutei, mas contratei uma pessoa para uma vez por semana me ajudar nas tarefas domésticas.
O momento exige que eu tome essa providência, porque as tarefas externas são muitas, não me sobrando muito tempo para limpezas diárias. O que me sobra me consome na cozinha, minha atividade predileta.
Enfim, recebo minha auxiliar, com a maior boa-vontade. Sento-a diante de mim e com paciência explico como desejo que ela trabalhe, qual a tarefa que deve desempenhar primeiro, qual o cômodo da casa exige cuidados apurados, etc...
Depois de quase meia hora mostrando como deve se posicionar, ela, moça de trinta e cinco anos, abre com constância a boca, denotando um sono premente que com ela, briga durante toda a nossa conversa.
Percebo que a estou cansando com minhas explicações e lembro de perguntar se tomou café. De imediato responde que não come desde ontem às sete da noite.
Meu marido que a essa altura também já está esfomeado, dá salvas à minha brilhante lembrança e parto para a cozinha para preparar o nosso café da manhã. Coloco a mesa à qual ela, minha auxiliar, de pronto se senta aguardando meus preparativos. Meu marido do outro lado da mesa, espera e ela, sem pestanejar, toma para si a caneca que para ele preparei e sorve com assobios, o café do meu marido. Espantada, tento deixar para lá, mas ela, sem qualquer cerimônia, toma para si pão, queijo e a fatia de bolo de café destinada ao meu marido que começa a sorrir pelo canto dos olhos.
Decido dar uma pausa nos preparos e deixo-a terminar seu café. Pede mais uma xícara e eu a preparo, arquitetando na mente um jeito de despachá-la, sem mesmo começar o serviço, pois já lá se vão quase nove horas da manhã.
Meu marido, na mesa com ela, sequer abre a boca, talvez pensando no que havia me dito antes da contratação, visto que me conhece mais do que a palma da própria mão.
Não pensei duas vezes, quando ela, minha futura auxiliar, levanta da mesa, sem pedir licença e se espreguiçando, pergunta: - madame, cadê os produtos de limpeza.
Minha resposta foi dizer que infelizmente havia surgido um imprevisto e nós não poderíamos estar em casa aquela manhã e, portanto, teríamos que dispensá-la, sem mesmo iniciar suas tarefas.
Notei em seu semblante um misto de surpresa e satisfação que ficou mais evidente quando eu paguei sua diária. Ao indagar quando poderia retornar, pedi que aguardasse meu telefonema, porque o tal imprevisto não me dava margens de fazer qualquer programação.
Quando minha futura auxiliar saiu, senti um alívio e um contentamento tamanho que jurei não tentar outra vez.
Sei que essa minha decisão não ajuda a mim, nem tampouco a quem precisa de emprego, mas o que posso fazer, se não tenho estômago para aturar certos abusos, hoje tão presentes nos chamados "necessitados"?
Fonte da imagem: rafs2.blogspot.com
Amiga Adir!
ResponderExcluirSem querer ser irônico e "já sendo", se precisar de "estômago", peça emprestado o da dileta ex-futura auxiliar, pois, pelo seu relato, percebi que isso não falta à mesma... hehehe
São pessoas assim, as potenciais "clientes" do bolsa-família.
Abraço!
Boa noite!
ResponderExcluirAgradeço novamente a generosidade de suas palavras com este vivente que apenas põe o que lhe passa à cabeça no pobre papel...
Sua história de hoje lembrou um fato ocorrido com minha tia (irmã mais velha de minha mãe), que estava a lavar a frente da casa quando uma sernhora forte e sacudida bateu-lhe a porta p/ pedir um dinheiro p/ fome. De pronto minha tia lhe pediu ajuda, a troco de remuneração em dinheiro e umas provisões em alimento. A distinta pedinte não se fez de rogada e xingou minha tia de "vagabunda", além de dizer alto e bom som que não estava pedindo trabalho! Àquela época, vivíamos a sombria ditadura militar e o problema de então me parece ser o mesmo de hoje: educação. Porque gente educada não dorme à sombra da aba do chapéu alheio...
Grande abraço,
Adh