Estamos no Carnaval.Assumo minha raça africana e vejo-me saltitando feliz no bloco de sujos.Foi o primeiro que passou na rua onde moro, no subúrbio. Devia ter aproximadamente umas quinhentas pessoas. Diferentes umas das outras mas, inexplicavelmente, integradas no sentimento. A atitude geral é única e visa, exclusivamente, jogar para fora emoções reprimidas e alegrias do momento.Ali não existe médico, professor, estudante ou mendigo. Todos querem cantar e pular e eu me junto aos demais, sem sentir.Todos se sorriem, se afagam e se cumprimentam como se fossem amigos de outrora.Reparo, naquele momento, que já percorri duas ou três quadras com o grupo e, extasiada, vejo-me ensaiando passos de porta-bandeira, quando um dos integrantes junta-se a mim para compor o par, usando como estandarte a vassoura do gari.Graças a minha ingenuidade, minhas roupas são comuns, aquelas usadas para ir à padaria à tardinha e quando meu lado inconsciente avisa-me de onde estou, posso desviar-me do bloco pela lateral e retornar a casa, comportadamente, como se em algumas horas eu não tivesse viajado à lua.
(Adir Machado Vieira Queiroz da Silva - abril/2009)
Fonte da imagem:funcab.org
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