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sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Carnaval


Tinha eu quatorze anos, época em que os hormônios clamam por felicidade.Na semana seguinte seria Carnaval e primas e amiguinhas de melhores posses do que eu, não falavam de outra coisa e, como sempre, já haviam decidido o que fazer e para onde ir naquela longa semana de folga.Só eu e minhas irmãs cumpriríamos a mesma rotina de dias iguais, já que não tínhamos condições financeiras para gastos com lazer.Era Carnaval e eu, mais do que ninguém ficava enlouquecida com os bailes fomentados na mente, na imaginação desenfreada de quem admira a festa.Acho que naquele dia, Deus ouviu minhas preces e fez com que duas das minhas primas mais próximas convidassem a mim e a minha irmã quase gêmea, então com treze anos, para um baile noturno. Não seria perigoso pois todos iríamos com meus tios e era bem próximo de casa, num daqueles clubes familiares criados por moradores do local. Antes que meus pais consentissem – sabia que iriam permitir nossa ida – fiz de relance uma fantasia em torno da questão. Lá, já me vi pulando entre os foliões e chamando a atenção geral com a minha fantasia. No entanto, a fantasia seria um grande problema, já que não possuíamos nenhuma veste que, trabalhada em última hora, pudesse ser transformada em traje carnavalesco.Sem admitir essa impossibilidade, resolvi vestir o meu vestido mais apresentável, verde água, por cima de uma calça preta justa. Colocado por dentro da calça, dobrava-se por cima dela, dando uma aparência de – melindrosa – que, com colares e pulseiras coloridos, nada deixaria a desejar a fantasias mais simples.Fiz o mesmo com o de minha irmã que era de cor rosa. E assim, fomos para o baile.Eu me diverti tanto, tanto, que nem um lanche oferecido pelo meu tio me fez parar de dançar.Nas primeiras horas da madrugada e com o baile terminando, fomos deixadas na porta de casa. Meu pai, avisado com antecedência, abriu a porta em silêncio, para que as outras crianças e minha mãe não acordassem.Minha alegria cessou quando, ao me despir para o banho, deparei-me com o vestido, único traje para as ocasiões festeiras, todo manchado de preto. O mesmo ocorreu com o de minha irmã.Não preciso detalhar o que ocorreu no dia seguinte quando minha mãe viu, nem sobre os castigos que sofremos..

(Adir Machado Vieira Queiroz da Silva - abril/2009)

Fonte da imagem:pcmag.uol.com.br

3 comentários:

  1. Adir. Estou hoje aqui não para comentar seu post, mas para lhe deixar um lindo texto de Letícia Thompson, que tenho certeza, irá lhe fazer muito bem.
    Uma questão de tempo...
    Sim... as pessoas que amamos são insubstituíveis ao nosso coração. Aquele lugarzinho que elas ocupam fica marcado com a presença delas, com o cheiro, com a forma e até o som do riso.
    E quando elas partem forma-se o vácuo. Mas se a presença física se foi, ficam ainda as lembranças de tudo aquilo que foi construído juntos: os momentos vividos, as horas compartilhadas, muitas vezes as partidas e reencontros...
    A saudade é tão indizível quanto a dor que ela provoca.
    Mas ainda existe uma esperança: quem faz o bem aqui, nunca vai completamente: essa pessoa vive através dos ensinamentos que deixou, vive através das marcas que foi colocando em cada passo, cada acontecimento...
    E o que reconforta é a esperança de que esse ponto final colocado é apenas passageiro, pois o Senhor nos prometeu que um dia, no céu, nós nos reconheceríamos.
    Então... é apenas uma questão de tempo. Um dia a gente se reencontra fatalmente com aqueles que amamos e nos amaram acima de tudo nessa vida terrena. E enquanto estamos aqui, vamos deixando nossas marcas também, por que há os que precisam de nós e os que um dia irão querer viver com a esperança de nos reencontrar.
    Assim, um dia, numa promessa feita por Deus, haverá no céu uma grande festa.
    Tudo é uma questão de tempo...
    Beijos, força, fé e muita coragem.

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  2. Maria José,
    Que lindo texto. Quanta verdade, que veio ao encontro de tudo o que eu penso, de tudo o que eu quero no momento: o reencontro.
    Muito obrigada pelas suas palavras e pela sua disposição em me dar conforto.
    Que eu tenha fé e coragem e que cada dia seja menos um nesse espaço de hoje até o nosso reencontro.
    Beijos e mais uma vez obrigada.
    Adir

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  3. Diza, que bom que você tem amigos especiais que estão te ajudando nesse momento tão difícil pela partida do querido Jorge. Tenho certeza de que de onde ele está, continua perto de nós, em nossos corações. E vai através dos sonhos confortá-la sempre. A saudade fica pra sempre, mas a dor aos poucos se diluirá. Beijos.

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