Nesses dias que antecedem o Natal e me deixam sem tempo para colocar no papel minhas próprias reflexões, divido com vocês esse belíssimo texto de Arthur da Távola.
Peço licença para falar na minha criança, a que mora aqui dentro e não me abandonará jamais.
Talvez com a morte eu até regresse a ela.
Os quase setenta anos que dela me separam não a removem.
Ela ali está, magra e tímida, a me olhar e ditar comportamentos e reações.
Minha criança esteve em todos os meus filhos e aparece nos meus netos.
Ela se refaz da morte da irmã e abre os olhos para o mundo, com a certeza de que veio ao mundo para alguma missão, embora sempre se considere inferior ao tamanho da mesma.
Ela sente enorme saudade de pai e da mãe com quem o adulto já não conta salvo no exemplo, na saudade e nas orações quando me domina uma fugidia sensação de estarem, incorpóreos, a meu lado, mas sem se manifestarem.
Minha criança possui incomensuráveis solidões diante do mistério do infinito.
Ainda recua diante do violento, embora não o tema, e ainda se infiltra em episódios de distração e inocência inexplicáveis num homem com minha carga de vivências.
Minha criança ainda gosta de abraço caloroso, proteções misteriosas e de um modo de rezar que o adulto nunca mais conseguiu tais a entrega e a total confiança no mistério e na proteção de Deus.
Ela carrega o melhor de mim, é portadora de meu modo triste de falar de coisas alegres e de algum susto misterioso sempre que se lhe impõe alguma expectativa de enfermidade.
Minha criança é inteira, mansa, bondosa e linda.
Eu a amo, preservo, e dou boas gargalhadas quando a vejo infiltrar-se nas graves decisões de algumas de minhas responsabilidades adultas.
Ninguém a vê, salvo eu.
Ninguém a acaricia, salvo eu, que a estimo, procuro e admiro mais a cada dia e com quem converso histórias infinitas, que somente a imaginação pode conceber no universo maravilhoso da fabulação interior e solitária.
Diariamente passeio com minha criança e estou muito feliz por cumprimentá-la, levar-lhe balas, nuvens, aquele cão da meninice, as canções de minha mãe e os carinhos de meu pai.
Que eu, possa acarinhar sempre minha criança, dando a ela a oportunidade de sonhar e ser feliz.
Seja feliz, minha criança!!!
AUTORIA: Arthur da Távola
Fonte da imagem:www.slideshare.net/mimabadan
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